sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

ÚLTIMA CANÇÃO


Compasso, tom, ritmo, melodia, harmonia, sinfonia, fermata, última nota e... barra de fim.
Acabou-se!
Se finda a vontade de alimentar o desejo, a chance ou a possibilidade de fazer da vida uma canção plena.
Vejo de cá, permito que vá, o que um dia enfeitou os ouvidos, trouxe paz e boa sonoridade. 
Foi-se!
E talvez não volte jamais. Congelaram as paredes do interior, talvez mais que isso, o entorno, o meio, do começo ao final.
Numa mesma estrada o caminho duplicou-se, mas foi hora de seguir sozinha. Olhar com os mesmos olhos, mas encarar diferente a direção.
Sofri!
Temerosa ainda tentei. Persisti, insisti, lutei, tentei uma vez mais, sorri, chorei, desabei. 
PENSEI! (Por um momento de lucidez.)
E embora não entendesse, ouvi um fundo musical crescendo. Sim, como o teclar de um piano gelado. Nos mais graves e escuros tons, aqueles que arrepiam a alma e o espírito, ainda que estejam estes dentro de nós.
Resisti ao eu, a mim!
Acorrentada fui, com algemas e cordas em punhos, me mantive longe, presa no invisível, mas longe. Isso importa!
E me acabei!
Sim. 
Acabei com o que pensava dar esperança. Decidi ouvir o vazio, não acreditar jamais. Decidi ser gelo, como pedra fria. 
E pudi, então, ouvir um último som. Estou ouvindo-o agora, podes entendê-lo também? É um som de nada, de vazio, de dor, som como de um grito dado com eco. Som de certeza de lágrima pingando...
Anular tudo, pra acreditar que exista o novo.
E sei que há. Não vejo, nem quero experimentar. A saudade por si só, já me é a lembrança de que um dia algo foi real.
E o combustível é acreditar, que como Fênix possa renascer das cinzas. Se for de ser, renascerá do preto e branco.
E cantará como pássaro. E se tornará a última canção d'alma. Desejada de ser entoada e ouvida pra sempre acompanhada. 


 SOUZA, Dayane.